quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

E a justiça, é justa?

Nascemos e nos criamos em uma pequena localidade do interior de Santa Catarina, mais especificamente, Alto vale do Itajaí. Filho de agricultor, tínhamos como rotina, acordar na madrugada, inciar nossa jornada  pelas tarefas domésticas, emendar com as tarefas do campo, retornar á noite , completar a jornada novamente com as tarefas domésticas. Nesta rotina, se foram a infância e juventude. 
Imagem relacionadaNosso contato com ambiente urbano se dava pelos noticiários, do rádio, da TV e quando de visitas de parentes que viviam em cidades. Nossa compreensão em relação aos acontecimentos, seja quais fossem, tinham como parâmetro a pacata vida n'aquele pedaço de chão onde construímos a personalidade baseada nos valores e princípios que norteavam nossa pequena comunidade.

Desde os primeiros passos, aprendemos que não existe meio certo, ou meio errado, mas sim que certo é certo e errado é errado, seja qual for a circunstancia. Me vem a mente como fosse hoje, certo domingo ao retornarmos da pregação semanal(culto dominical),  eu e meu irmão nos deparamos com uma bola(de futebol), mucha, largada á beira da estrada, em meio a pequenos arbustos, destes que proliferam em  chão batido, comuns ao interior,  áreas agrícolas.

Não pensamos duas vezes, apanhamos a bola e continuamos nosso trajeto até nossa casa. Papai(in memoriam) homem sério, guardião dos bons costumes, chegou uns 20 a 30 minutos após estarmos em casa, como não podia ser diferente, apanhou-nos, correndo e brincando com o achado. Nesta época estava eu com aproximados 9  e meu irmão com 7 anos de idade.. O acontecido neste dia sedimentou todos os valores e princípios aprendidos com  papai, mamãe, catequistas, professores, não somente aprendidos, mas compartilhados na pequena comunidade em que vivíamos.

No exato momento em que papai percebeu que brincávamos com objeto que não era do nosso portfólio de brinquedos, nos questionou. No mesmo momento respondemos que havíamos encontrado á beira da estrada....., interrompendo-nos no meio da narrativa, com voz altiva , a indagação que não queríamos ouvir. Informaram ao filho do vizinho do objeto retirado do meio dos arbustos? Nossa resposta, não! No mesmo momento, papai nos passou um sermão, enfatizando a importância de praticarmos o certo, nos convocou a pegar a bola, ir até nosso  vizinho, confessar o ocorrido, pedir desculpas e devolver o achado.Ali, neste dia, marcamos em nosso subconsciente e consciente  que  nunca em momento algum temos direito de  apropriar-nos do que for do outro. Que o ilícito não está no volume, quantidade, mas sim, na atitude.

A vida dura do interior, a vontade de alçar vôos mais altos nos trouxe para cidade, e cá estamos até os dias de hoje. O relato de nossa vida no interior tem como propósito a reflexão, pois a especificamente a última década tem  confrontado a máxima aprendida lá na infância, o certo é certo, o errado é errado. Ao  analisarmos o cenário, seja ele político, econômico, profissional, religioso, familiar, etc..nos deparamos com os mais variados tipos de "jeitinho", ante as mais variadas situações, onde a " tal bola mucha é surrupiada" sem a menor cerimônia, com alegações do tipo, se ele pode, porque eu não posso?

O título desta postagem questiona, a justiça é justa? Não teríamos hoje muitas brechas, que permitem
aos abastados recursos e mais recursos? Não seria este modus operandi o "adubo" que proporciona  a proliferação do errado como certo? Afinal, se alguém é condenado após um longo processo investigatório, por que cargas d'água lhe são permitidos mais e mais recursos?  Por qual motivo a justiça demora em aplicar a lei como ela foi concebida ? Quais valores estamos incutindo nas crianças que escreverão o futuro do local onde vivemos? Será que assumirão " ter se apropriado da bola", devolvê-la ao seu proprietário e ainda pedir desculpas pelo ato?

Resultado de imagem para o certo é certo mesmo que ninguém o faça. o errado é errado mesmo que todos se enganem sobre eleHá indícios, homens de bem que estão empunhando a bandeira do certo. Nosso desejo, mais do que isto, nossa obrigação é trabalhar e agir para que num futuro não muito distante possamos afirmar, sim, a justiça é justa, olhar para o lado e ver que sim, "a bola" será devolvida, a culpa será assumida, desculpas serão pedidas, e se houver erro, que não seja permitido recorrer para justificar que o errado é certo.

Reflita sobre isto, sucesso !!!

ps; para completar nossa história, após termos confessado nossa travessura, o vizinho nos presenteou com a bola e brincamos felizes por vários finais de semana. Mas, foi uma grande lição.


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